sábado, 20 de abril de 2013

A partida.

À espera do próximo trem, empilhou as  malas, como um engenheiro que planeja o lugar de cada tijolo do enorme edifício, assim o fez com as malas,tentando planejar um futuro, até então, incerto. Submeteu-se à tal situação, desde que resolvera sair da cidade, não importava o destino, importava apenas, pôr ali, um ponto final e partir. E partiu. Olhou no pulso o relógio, já era quase hora, partiria dentro dos próximos quinze minutos. Tirou a poeira do paletó engomado, lustrou o sapato, ajeitou a aba do chapéu e procurou nos bolsos, o perdido bilhete de passagem. A preocupação tomava forma nas rugas de sua testa franzida, que juntamente dos passos dados pra lá e pra cá, agonizavam qualquer transeunte que ali ao lado passava. Mas era preciso partir, ali jazia toda uma história. Agora eram dez, os minutos restantes. Esperou os próximos cinco minutos, como quem espera a passagem de cinco séculos. A ânsia da partida lhe  açoitava o peito, agonizando em sua mente as lembranças deste lugar que logo, dentro de minutos, deixaria. Mais uma vez arrumou a aba do chapéu, colocou os óculos escuros e abriu diante da face o jornaleco da pequena cidade. Os passos eram cada vez mais apressados, dava voltas num movimento de rotação acelerado. Esperar mais três minutos, o trem que parecia nunca chegar, tornou-se um martírio. Arrumou mais uma vez o disfarce, olhou para os lados e desconfiou dos passantes. Ajeitou a lapela, empilhou as malas, guardou o jornal e olhou no relógio, agora dois minutos restantes. Certificou que estava ali, dentro do paletó marrom, a quantia recebida, uma farta junção de notas verdes, guardadas dentro do envelope surrado. Passaria, longe dali, uma boa vida que viveria às custas do recebido pelo feito. Estava sedento pela chegada do trem, que agora, não tardava um minuto. Enfim, a grande máquina de ferro anunciou sua chegada triunfante, que naquele momento entrara na plataforma da estação. No rosto, abriu-lhe um daqueles sorrisos sarcásticos. Deu então, o primeiro passo porta a dentro. Escutou a voz que, do fundo da estação chamava seu nome. Virou-se, e naquele triste momento, um sujeito apareceu, e de forma impiedosa, sacou o ferro, apertou o gatilho e desferiu-lhe três tiros, dois no peito e um ao vento, tomou o envelope e fugiu. O paletó marrom, agora coloriu-se com uma grande mancha rubra. Zero minuto e o trem partira , partiu também o forasteiro jurado de morte.

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