terça-feira, 9 de abril de 2013

Unidade de Tratamento Interno


Incomodado pela tremeluzente luz branca a ofuscar-lhe a retina, (mesmo que de pálpebras cerradas), tentava desesperadamente, sem êxito, abrir o olhar à procura de um esclarecimento da situação. Com os sentidos à flor da pele, vivenciava cada pequeno fato de forma sinestésica, como os passos, que do corredor silencioso se aproximavam cada vez mais, causando-lhe na mente um infernal barulho de martelo. Ou mesmo as gotas pingando com a força que cái um meteoro, sentindo nas veias o transpassar gelado do líquido viscoso, que das artérias às organelas celulares iam distribuindo cada elemento químico de forma elementar. A loucura dos clamores vindos de macas vizinhas ecoavam, em seus tímpanos, agora mais sensíveis que uma película d'água, e crivavam-lhe nos neurônios de forma a interromper as sinapses, ocorrendo-lhe no ser a demência e desvarios de seus colegas enfermos. Confundia agora, o ser real e o imaginário, já não mais sabia sua colocação no tempo e no espaço. De súbito, como uma alma que cái no corpo ao acordar de um sonho, quis com toda veemência física do corpo levantar-se, mas tarde demais, os membros locomotores encontravam-se ali, fortemente atados à gélida plataforma metálica. Pôs-se à prova, a maior insanidade que pode um ser-humano, perder o controle de si, vivia um mundo de pulsações convulsivas e delírios. A brancura do ambiente hospitalar fora tanta que penetrou-lhe o ser, roubando o rubor sanguíneo da pele, congelando a alma e atribuindo-lhe o estado lânguido que trazia o desfalecer do ente. Não restava outro diagnóstico, o aparelho ao lado já não mais soltava o bip que tem um ser em vida. As ondas já não mais seguiam o ritmo de uma variação compulsória, restava apenas uma linearidade cartesiana que calou uma vida, uma voz e um ser. Só não calou a voz do médico, que ao final, apenas disse : "Desliguem os aparelhos!".

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